"Religião é um excelente meio de manter as pessoas comuns calmas".
Napoleão Bonaparte

Karl Marx
tinha suas razões para classificar a religião como o ópio do povo.
Quando a religião serve a agendas políticas, a interesses ideológicos de
subjugação econômica, com o fim de domesticar e dominar as massas,
então, de fato, ela se torna numa poderosa droga.
As duas bestas
do Apocalipse nos revelam a dinâmica existente entre os poderes secular
e religioso. A Besta que emerge do mar representa o poder do Império
Romano, que busca consolidar-se perante as camadas populares através do
respaldo da Besta que vem da Terra, o poder religioso. Esta Besta tinha a
aparência de um cordeiro, “mas falava como dragão” (Ap.13:11b). As duas
bestas se acasalam, provendo a união entre Religião e Estado, entre o
que se convencionou chamar de poder temporal e poder atemporal.
A experiência vivida
pelo Império Romano tem sido repetida ao longo dos séculos. Os
poderosos buscam legitimar seu domínio através da Religião, e a Religião
busca consolidar-se através do apoio dos poderes constituídos.
O Cristianismo ía bem,
expandindo-se por todos os rincões, até que o Imperador Constantino
resolveu anunciar sua conversão. A partir daí, o Cristianismo deixou as
camadas populares, para habitar nos palácios. O que parecia um avanço
foi, na verdade, um irreparável retrocesso. Por mais de mil anos, a
Igreja, antes subversiva, marginal, andou de mãos dadas com o Estado,
desviando-se tanto da doutrina, quanto da práxis apostólica.
A Reforma Protestante
resgatou, pelo menos parcialmente, a autonomia da igreja. Digo
parcialmente, pelo fato de hoje, algumas igrejas consideradas reformadas
serem igrejas oficiais em seus respectivos países, como no caso da
Igreja Presbiteriana na Escócia, a Luterana, mantida pelo Estado Alemão,
e a Igreja Anglicana, que mantém sua subserviência à Coroa Inglesa.
E por aqui,
do lado de cá do Equador, as coisas não estão muito diferentes. A cada
dia assistimos à aproximação das igrejas evangélicas do Poder Público.
Pastores e Bispos trocam seus púlpitos por uma cadeira no Parlamento.
Quem tem um pouco de conhecimento de História tem a sensação de já ter visto este filme antes. E sabe muito bem aonde isso vai parar.
Lutero dizia
que Deus usa dois braços no Governo do Mundo: o braço esquerdo é a Lei,
e representa o Estado; o braço direito é a Graça, e representa a
Igreja. Ora, se esses dois braços se cruzarem, não poderão trabalhar
livremente. Governo e Religião precisam manter a distância entre si.
Diálogo, tudo bem. Comprometimento, jamais. A Igreja deve comprometer-e
com a Justiça, com o bem-estar do ser humano, mas não com uma agenda
política em particular.
Se o Brasil continuar neste caminho, corremos o risco de em breve termos que conviver com uma espécie de Talibã Evangélico.
A Igreja pode
e deve ajudar ao Estado em seus projetos sociais. Mas não deve
comprometer-se partidária ou ideologicamente. Isso seria um suicídio.
Mantendo certa
distância, a Igreja preserva sua autonomia para desempenhar seu
ministério profético, denunciando os erros e abusos do Estado, e
trabalhando livremente nas áreas em que lhe falte competência ou
eficiência.
Se cristãos
sinceros e íntegros demonstrarem alguma vocação política, não vejo
qualquer razão pra que eles não devam envolver-se no processo político.
Mas eles devem responder por si, e não falar em nome de uma denominação
religiosa.
De fato,
precisamos de políticos cristãos, comprometidos com os valores do Reino
de Deus. O que não precisamos é de quem represente a igreja na
política. O advogado da igreja é Cristo.
Um
político cristão deve lutar pela causa dos menos favorecidos, dos
excluídos, da Justiça Social, da Educação, e não pelos interesses de um
grupo, ou de uma denominação.
Geralmente,
a chamada bancada evangélica parece muito mais preocupada com questões
de cunho moral, como aborto, casamento homossexual e liberação de
drogas. Infelizmente, tais pautas são usadas apenas com fins
marketeiros, e para justificar perante os eleitores a sua atuação. São,
de fato, bois de piranha, para desviar a atenção da opinião pública das
falcatruas cometidas em suas legislaturas.
Dificilmente
encontramos um político evangélico que demonstre preocupação sincera
com questões sociais, como uma distribuição de renda mais justa e a
reforma agrária.
Vergonhosamente,
a maioria deles está lá para lutar por concessões de TV e de Rádio, por
verbas de programas sociais, e principalmente, por cargos.
É por essas
e outras que, na classe política, ninguém leva a sério a igreja
evangélica. Ela é vista apenas como um vigoroso curral eleitoral.
Recentemente
assisti a uma entrevista de um bispo-senador evangélico, que defendia
que uma determinada verba destinada à Cultura, deveria ser usada na
reforma de igrejas. A igreja de Cristo jamais precisou de verba do
Estado. Ela é dignamente mantida pelas contribuições de seus fiéis.
Tirar verba da Cultura para investir na igreja é, no mínimo, um motivo
de chacota para os incrédulos.
Não são poucos
os casos de políticos, discípulos de Constantino, que ensaiam uma
conversão fajuta ao Evangelho às vésperas das eleições. O povo cristão
precisa deixar de ser ingênuo, e parar de acreditar nesses políticos
hipócritas, que nada mais querem, senão aproveitar do seu potencial
eleitoral.
Escândalos envolvendo
políticos evangélicos só servem para afetar a credibilidade da mensagem
do Evangelho. “Ai de onde vêm os escândalos”, advertiu Jesus.
A Igreja de Jesus não
deve ser usada para se alcançar objetivos políticos. Ninguém está apto a
exibir procuração pra falar em nome da igreja nos ambientes
político-partidários.
Cada membro
do Corpo místico de Cristo deve exercer sua cidadania com consciência, e
jamais votar em alguém simplesmente por ter sido indicado por seu líder
religioso.
Faz-se muito
terrorismo psicológico para forçar os cristãos a votarem no candidato
apoiado pela denominação. Fala-se em casamento homossexual, como se a
igreja fosse obrigada a realizá-lo, caso tal lei tramitasse e fosse
aprovada pelo Congresso Nacional. Se o pastor se negasse a celebrar tal
boda, seria preso, enquanto a igreja teria suas portas cerradas. Quanta
imaginação! Tudo para convencer os crentes a darem seu voto ao candidato
comprometido com a “visão” da igreja. Que visão é essa? Expansão do
Reino de Deus e de sua justiça? Não! Expansão dos negócios da
denominação. Infelizmente, esta tem sido a verdade, quase que sem
exceção.
Poucos políticos
evangélicos têm demonstrado compromisso com a agenda do Reino de Deus.
Alguns estão mais comprometidos com a ideologia partidária, do que com o
Reino e a sua justiça.
Em vez de
fazerem da Bíblia o seu livro de cabeceira, preferem “O Príncipe” de
Maquiavel, de onde aprendem que os fins justificam os meios.
